VISÃO HOLÍSTICA DA MÚSICA” OU “ESTUDO GERAL DA MÚSICA” OU “ESTUDO TRANSDISCIPLINAR” DA MÚSICA

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* NOTA 1: ESTUDO GERAL DA MÚSICA é um conceito desenvolvido por ‘Wesley Lély Caesar’ ainda na década de 1970 que resultou duas décadas depois num website que ficou no ar por alguns anos até que foi retirado, mas, aqui é parcialmente reproduzido na página anexa. É importante lembrar que o interesse por tais temas e estudos encontra-se infelizmente apenas no mundo acadêmico, embora este tipo de estudo desenvolvido por Wesley tenha um conteúdo de absoluta relevância ao mundo da música e que em tese deveria despertar interesse principalmente dos profissionais da música, contudo, a manifestação do interesse por temas tão importantes, pouco existe, motivo pelo qual saiu do ar há alguns anos… Mas, agora retorna em forma de CURSO- SAIBA MAIS acessando a pagina de CURSOS ONLINE.
* NOTA 2 : O conceito de ESTUDO TRANSDISCIPLINAR DA MÚSICA só surgiu entre 2009 e 2011 quando Wesley escreveu a obra MÚSICA (CULTURA e SOCIEDADE) – SAIBA MAIS no texto abaixo…
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* UMA BREVE HISTÓRIA QUE ANTECEDE O CONCEITO E A ESCRITA DA OBRA “MÚSICA(CULTURA E SOCIEDADE)”

A ideia de um ‘Estudo Geral da Música’ surgiu na vida de WESLEY LELY CAESAR em meados da década de 1970, quando ele se dedicava ao estudo do Violão Clássico. Na época ele criou um esboço em forma de organograma relacionando várias disciplinas com a música: Matemática, Física, História, Sociologia, Psicologia, etc. O que ele não sabia na época é que este estudo que havia concebido intuitivamente, pertencia, na verdade, aos antigos conceitos os quais grandes estudiosos do passado, teoristas da música, filósofos, matemáticos e físicos já haviam se debruçado. Um estudo mais apurado sobre as origens da música ocidental nos leva a Pitágoras ou os primeiros Pitagóricos na Grécia pré-cristã berço da nossa cultura, acreditavam eles que os intervalos musicais, e, portanto, a música surgiam a partir de uma relação numérica e matematicamente proporcional, contudo, uma outra escola os ‘Harmonicistas’ já advogavam que os intervalos musicais pudessem surgir por uma outra ordem não necessariamente numérica, e sim, de estados vibracionais dos corpos físicos quer sejam instrumentos musicais ou qualquer forma de matéria que produza vibração… O princípio da vibração cósmica, suas leis, oitavas cósmicas, etc, etc, podem ser encontrados em antigos escritos que datam de tempos muito remotos… Aquilo que chamamos de música no ocidente possui uma trajetória histórica dividida por períodos e fases contraditórios quando os ‘fazeres sonoros’ ocidentais nem sempre atendiam aos mesmos princípios ideológico-filosóficos, pois, cada período pode conter regras e formas nem sempre compatíveis à lógica de outros períodos, a saber… Na década de 1990 um aluno de WESLEY LELY CAESAR (Mauro Freire) à pedido de Wesley criou um organograma para um formato gráfico para que tivesse melhor leitura (ver mapa-organograma abaixo). Na década de 2000, Wesley reconcebeu este Mapa-Organograma e o desdobrou em três outros mapas (ver mapas abaixo). Durante a década de 1980 Lély se dedicou exclusivamente ao desenvolvimento das metodologias de guitarra, por isso deixou estacionado os estudos a cerca de outros temas. Mas, nas décadas de 1990 e 2000 retomou a pesquisa sobre os ‘Estudos Gerais da Música’…

Mapa original 1970 : 

As ciências que envolvem a Música ou estão envolvidas por ela – e que são aqui emprestadas para o desenvolvimento de uma visão holística dela, ou se quisermos, transdisciplinar, como a qual propôs Wesley – obviamente só surgiram no decorrer dos processos humanos os quais tem origem na Magia, pois, nenhum historiador das ciências terá como negar este fato. Parece claro, que a estrutura do “psique humano” foi construída pela mitologia que sempre envolveu magia, rito, crença, etc… O papel da “música” neste processo parece incontestável, uma vez que toda a mitologia sempre foi alimentada pelos ‘fazeres sonoros’ humanos, até porque os sons estão constituídos na própria natureza. Então, mitologia e ciências caminharam juntas de forma indissociadas, uma era a outra, até que certas culturas humanas a separaram, como ocorreu no Ocidente nos últimos 500 anos desde a tal Renascença, quando a filosofia, a ciência e a mitologia se dividiram com suas formas doutrinárias agora com caráter próprio. Portanto, todos os conceitos envolvidos dentro da tentativa de se fazer um estudo apurado da música relacionando-a, à várias ciências, são provisórios, uma vez que as ciências em suas origens estão sujeitas a revisão constante, donde a certeza única é a incerteza… Uma tentativa deste ‘Estudo Geral da Música” foi proposto na obra MÚSICA (CULTURA e SOCIEDADE) por Wesley Caesar lançada somente em língua portuguesa em 2012 (com edição esgotada) – ver página relacionada

  Apresentação dos ”Quadros Sinópticos”

“Os “Quadros Sinópticos” da Música” que aqui apresento são meramente ilustrativos das amplas relações que a Música pode ter com os vários setores de toda a vida humana. A ideia é correlacionar tudo aquilo que a Música envolve ou está envolvida, o objetivo é tentar entendê-la em todas as suas dimensões.

Tais noções acerca da Música foram concebidas dentro dos estudos de Wesley ainda na década de 1970 em uma perspectiva “Holística”, em caráter experimental. Na época, Caesar desenhou um esboço de um Mapa-Organograma para que pudesse ter um ponto de partida, porém, na década de 1980 não pôde dedicar-me integralmente à pesquisa, só retornando na década de 1990.

Quando fez este primeiro esboço (por volta de 1975), encontrava-se inquieto com uma série de questões relacionadas à Música, porém, não tinha a compreensão da complexidade que envolve uma visão “Holística real da Música”. Naquele período Wesley investiu numa pesquisa sobre assuntos diversos, mas, é fato que a História da Música, a Musicologia e principalmente a Filosofia e a Metafísica, já lhe atraíam como temas de estudo.

MAPA 01
 
Sobre o Quadro 1

No decorrer dos seus estudos Wesley foi adquirindo melhor entendimento do entrelaçamento da Música com os demais setores da vida humana. Então, pôde compreender que certas relações não se dão exatamente como organizou o primeiro esboço. Por isso mais tarde relacionou o segundo e terceiro Mapas-Sinópticos a este primeiro. Portanto, o Quadro 1 tenta relacionar aspectos que partem da Vibração como fonte provedora de todo o processo, uma vez que esta é a única informação mais essencial que temos…

MAPA 02
 Sobre o Quadro 2

            O Quadro 2 é uma sinopse da História da Música Ocidental, cuja interpretação está baseada em historiadores diversos, tais como: Roy Bennett, Edson Frederico, Roland de Candé, Otto Maria Carpeaux, William Lovelock, Claude Paliska, Luiz Ellmerich, Domingos Alaleona, Mário de Andrade, Yehud Menhuin, Piero Scaruffi e tantos outros autores de história da música os quais Wesley pesquisou.

            Como sabemos no Ocidente o conceito de Tempo é linear. Isto leva a uma compreensão da História como se ela fosse uma linha continua, e, não, processos isolados que eventualmente se entrelaçam… Além disso, História e Mitologia estão de tal forma entrelaçadas que uma pode ser a outra sem que percebamos, no entanto, no Ocidente, certos fatos e episódios tornaram-se materiais registrados pela historiografia, “organizando” assim uma narrativa, de “passagens” e “momentos”, que contribuíram para construir um tal “fazer histórico”, uma espécie de linha do tempo.

            No caso especifico da História do Ocidente, parece claro que há períodos os quais delinearam não só uma História da Música, mas, também, e principalmente, a história do próprio Ocidente. Podemos citar pelo menos quatro etapas históricas que parecem delineadoras de um processo o qual chamamos de História do Ocidente:

           (1) A Grécia pré-cristã onde deuses e semi-deuses (politeísmo) povoam a sua mitologia. A cultura grega antiga, não somente é fundamentadora da noção de ciência e filosofia, mas, principalmente, foi o berço da cultura ocidental. Obs.: Segundo muitos autores, é fato inconteste que a Igreja Católica exerceu um grande peso na formação da civilização ocidental. De fato nem precisaríamos dos autores para notarmos tal realização…

           (2) O império Romano que se apresenta como um mundo onde o lúdico pode ser praticado sem culpa… embora socialmente estratificado…

           (3) Após o império romano surge um mundo mais abstrato, onde o lúdico pode ser severamente punido, uma nova mitologia fundada na culpa e na redenção, o Cristianismo e a Igreja Católica foram os principais protagonistas deste complexo mitológico

           (4) Então, depois de séculos de “submissão” à um “ente abstrato” nessa “história”, ou neste processo, acontece a dissidência deste mundo patriarcal monoteísta…, que pretende explicar as coisas, o mundo físico através daquilo que chamamos de ciências. Neste processo histórico, funda-se a razão e as ciências modernas com o intuito de “iluminar” a vida humana, “inaugurando-se” um novo mundo… Neste desdobramento “inventa-se” um mundo, industrial e absolutamente comercial. O comércio em si é muito antigo (em última análise oriundo das ‘trocas simbólicas’), contudo, neste novo mundo tomará um novo corpo, se vestirá com um “novo manto”, caminhará com uma nova acepção… Seus administradores serão agora os “conselheiros” dos caminhos humanos… As invenções industriais associadas às descobertas cientificas, passam a organizar o conceito “moderno” de tecnologia… Surge assim uma nova ideologia de sobrevivência humana fundada na idéia de “mercado”. No século 19, um novo formato de sobrevivência já havia sido instaurado, fundado na lógica comercial, no “consumo obrigatório de mercadorias“. Fato inédito na História do Ocidente tendo em vista que nas sociedades antigas a predominância era dos mercados rurais de maneira isolada, portanto, não havia força considerável dos mercados urbanos sobre os rurais (K. Polanyi) e menos ainda a hipótese de um mercado centralizador mundial que fatalmente alterou a vida humana… Outro dado fundamental é que através das colonizações físicas e culturais deflagradas pela Europa branca, também conhecida como “invasões bárbaras”, outros povos de outros continentes foram cooptados ou abduzidos à embarcarem nesse “novo mundo”, até porque as relações (e guerras) comerciais entre os povos são bem mais antigas…

Os Períodos da História da Música Ocidental –
A Grécia Pré-Cristãhttps://youtu.be/xKnCIxYVVUo

GRÉCIA ANTIGA 1 https://youtu.be/jolhUsOcH8E​

GRÉCIA ANTIGA 2 https://youtu.be/B5GjxtY3fhk​

A Música do período Helênico ao Império Romanohttps://youtu.be/ALXoXhjjEtk​

A Música na Alta Idade Média https://youtu.be/hnYtJE94IWo​

A Música na Baixa Idade Média https://youtu.be/S-_16-8lmms

A Música nos outros continentes durante a Idade Média https://youtu.be/abEQKqoOVOc

A Música na Renascença Européia (sécs. XIV a XVI) https://youtu.be/A1ozGnpizD8

A Música, as Artes e as Ciências no período Barroco https://youtu.be/GyullYxFrY8

O ambiente musical, social e cultural durante o Classicismohttps://youtu.be/bbkIUIumDL8

A Música no Romantismo Sec. XIX – Parte 01 https://youtu.be/O8Lls5zVFsA

A Música no Romantismo do séc.XIX – Parte 02 https://youtu.be/CzAfEcVmQME

              Assim, todas as “relações humanas” tornaram-se “relações comerciais”… Então, a Mitologia corporificou-se em realidade… Os seus deuses podem ser vários, porque todos eles reúnem-se em um único Deus, que é a crença em um padrão artificial de sobrevivência. O credo econômico, a razão comercial como objetivo de existência humana, o dinheiro como o principal ‘fetiche’ de uma sociedade industrial. Suas diretrizes a fazem ansiosa e ávida por avançar tecnologicamente… Então, Tecnologia-Indústria-Ciências formam agora um trinômio sem precedentes…

              Estas novas ideologias tratadas por determinados “atores” sociais, gradualmente conduziram o homem (Homo Sapiens) a uma nova condição humana, isto é, uma nova “espécie”; o “Homo Comerciallis”Industrial, Autômato, Tecnológico, Científico, etc. Porém, no século 20, estas características se aprofundaram gerando novos desdobramentos ideológicos, então, através das ideologias científica e tecnológica (industrial) os objetivos tornam-se mais sofisticados. Uma espécie de lenda ou mito de Golém (na mitologia judaica é um ser animado criado a partir de matéria inanimada, é também a prática alquimista referente à criação de homúnculos) torna-se a meta da invenção científica, o Cyborg – A vertigem do pós-humano (Donna Haraway).    

           O que podemos observar é que, nós humanos ao nos auto-identificarmos como uma espécie diferenciada, no sentido Antropológico, adaptamos a nossa forma instintiva e orgânica de sobrevivência à criação de um conjunto de mitos e crenças, cujo aspecto, é o que nos diferencia das outras espécies animais.

           Mas, o que tudo isso tem a ver com a MÚSICA? Absolutamente tudo. Pois, a Música em sua essência, é o “fazer sonoro” (no sentido mais elementar e puro) ou, a “produção sonora” da maior parte dos seres vivos, porém, na acepção humana, pode ser entendida como o “fazer sonoro” de qualquer povo ou raça, que expressa o âmago de sua própria cultura, isto é, sua identidade, sua própria acepção e compreensão da vida e de todas as coisas, sua construção histórica e principalmente, sua construção mitológica

           Por isso, a mitologia e a crença sempre estiveram presentes na história do Ocidente (que é relativamente curta). Então, podemos questionar o quanto, o peso de uma crença, de um complexo mitológico afeta a História da Música de um povo, ou civilização.

O quanto desta construção histórica é espontânea orgânica, ao ponto de podermos fazer uma leitura cabal de todos os aspectos que orientam uma cultura humana ? O quanto podemos afirmar com plena convicção que as resultantes de nossas produções sonoras (musicais), são realmente produto de um fluxo histórico absolutamente espontâneo do povo ?

Estão amplamente documentadas as inúmeras iniciativas teoréticas e tratadísticas da música. Basta lembramos a organização dos modos litúrgicos instituídos pela Igreja Católica entre os séculos 4 (com Santo Ambrósio) e século 6 (com Papa Gregório) que deram base à toda música ocidental, desde então, além de inúmeros relatos tratadisticos e sistemáticos dentro da música ocidental que jamais foram escritos ou organizados por pessoas simples do povo, mas, sim, por “especialistas”, matemáticos, físicos, filósofos, desde no mínimo a Grécia antiga, com os pitagóricos (ver A República de Platão)…

MAPA 03
Sobre o Quadro 3

            O Quadro 3 é o esboço, com algumas modificações, desenhados na década de 1970, quando Wesley Lély Caesar tentou relacionar as várias Ciências com a Música (ver no outro texto “O princípio científico e suas relações na construção do Quadro 3).

            Antes de tudo, Música é ‘fazer sonoro’, isto é, Som (ver Quadro 1) e Som é fenômeno vibratório, cujo fenômeno está em toda matéria e muito provavelmente naquilo que ainda não seja matéria. Então, na visão de uma antiga “epstime”, talvez possamos dizer que ao nos referirmos ao Som em seus aspectos mais abstratos, estamos falando de algo que poderíamos especular na ordem da Metafísica ou da Ontologia!?.

            É fato que alguns autores desenvolveram estudos, na tentativa da compreensão deste tema, entre outras, uma área chamada Fisiologia do Som (ver O princípio científico e suas relações na construção do Quadro 3). Porém, o desenvolvimento desta ciência ainda não esgota o conhecimento das origens daquilo que chamamos de Vibração.

O SOM E O TEMPO NA MÚSICA

            Acontece que a “invenção” da possibilidade de compreendermos o mundo e as coisas através de uma ordem científica moderna, somente surgiu nos últimos 500 anos, quando uma “nova epstime” passa a conduzir os caminhos daquilo que chamamos de civilização ocidental. Então, Wesley Caesar se serviu desta visão moderna em princípio, para tentar entender Música em toda a sua amplitude.

            Portanto, a palavra Música aqui encontra-se definida por uma acepção que é exclusiva do Ocidente, que desenvolveu-se nos últimos séculos.

            A “epstime moderna” é insuficiente como plataforma para uma compreensão geral da Música, pois, é uma ‘teoria do conhecimento’ que não é necessariamente portadora de todos os saberes da humanidade, visto que não temos um inventário cabal, convicto, das culturas humanas, mas, apenas, e tão somente, os conhecimentos que o próprio Ocidente produziu nos séculos de sua própria História.

            Então, o que é nas outras culturas, aquilo  que chamamos de Música? É fato que temos que recorrer a outros saberes para além dos Ocidentais.

            Em outras culturas (e até mesmo em alguma dimensão da cultura do Ocidente) a Música possuiu (e possui) distintos significados e parece claro que estavam muito mais ligados à Magia, ao Transe, ao Sagrado, etc, não que no Ocidente isto não tenha acontecido, porém, à partir da Era Moderna e de sua égide que foi, e, é, a razão principalmente à partir do século 15, a Música, que eventualmente pudesse ser entendida como Magia, passou a ser entendida como Arte ou como Ciência… Muito embora na “música” produzida espontaneamente pelo “povo”, na “musica popular em geral”, tal mística possa existir inconscientemente, porém, o material utilizado no sistema musical ocidental, está em grande parte submetido à ‘lógica’ da organização e da construção racionais musicais dos últimos séculos.

          Nesta visão ‘moderna’ renascentista que retoma os antigos preceitos gregos pré-cristãos, a Música se pronuncia como Ciência desde Pitágoras (século 6 a.c. – ver Quadro 2), então, essa noção ‘cartesiana’ que a entende como algo essencialmente dotado de Matemática e Física, a racionalizou de tal forma que a “descaracterizou” de sua prática como Magia, embora a prática do ‘cálculo‘ já pudesse existir, mas, não a ‘matemática’ como Ciência, porém, o eventual “mistério” o qual, o Som é seu próprio portador, permaneceu.

          De outro lado o Pitagorismo é entendido dentro do estudo da filosofia numa abordagem livre, como uma “seita mística”, e não necessariamente como uma “ideologia científica”. Na história da Matemática, Pitágoras (cuja prova de sua existência ainda permanece em aberto) aparece como um personagem importante para a ciência do cálculo e da aritmética… Não há então, um comum acordo em torno deste personagem e sua obra…

          NOTA 1: O conjunto das Ciências modernas (dos últimos 500 anos) forma uma “ideologia” que tem origem na Razão fundadora de uma “nova epstime”… Então, as Ciências modernas são portadora de aparatos metodológicos que dão sustentação às suas próprias realizações. De modo que o mundo científico é um mundo cético, porque não trabalha com a mística, mas, é “crédulo” ao mesmo tempo, porque acredita naquilo que descobre e inventa, contudo, permanentemente aberto à refutações…

NOTA 2: É preciso estar atento ao fato que a filosofia da ciência que envolve um conjunto de disciplinas exatamente para investigar as origens dos métodos científicos ou das metodologias científicas, suas condutas, estuda os fundamentos, pressupostos e implicações filosóficas na condução das ciências como um todo, o que não tem nada à ver com o ‘negacionismo cientifico’ que é adotado por vertentes políticas mais radicais. Portanto, a crítica ao mundo científico pode ter viés autoritário e negacionista em contrapartida a uma linha crítica das metodologias e da natureza das revoluções científicas do século 16 e 18. É preciso saber distinguir entre negacionismo cientifico de investigação de metodologias e postura crítica da natureza das ciências e suas revoluções. Há uma enorme distância entre as duas coisas.

           No Ocidente recente passou-se a denominar a Música como ‘Arte’ cujo conceito é abrangente e foi desenvolvido para designar coisas que fazemos na perspectiva da criação. Deu-se, então à Música, o caráter da apreciação no âmbito cientifico, na perspectiva da Geometria, da Simetria, da Lógica Matemática, e etc.

          Ao consultarmos a História da Música notamos facilmente que não foram poucos os “racionalistas” que deram contribuições definitivas para a construção de uma teoria para a ela. Poucos músicos (práticos, isto é, empíricos) puderam determinar os caminhos da organização de uma sistemática musical. O exercício da ‘música’ entre o povo, através das composições populares, embora tenha a força da evidência da sua própria prática musical em si, não foi suficiente para evidenciar o quanto desta prática determinou qualquer sistemática teórica da música no Ocidente.

          Aliás, a questão da própria semântica das palavras e da ordem dos conceitos das coisas, importa muito mais do que imaginamos. As palavras; Arte, Música Ciência, poderão talvez nem existir em seus equivalentes semânticos em outros tantos idiomas humanos (exceto os Ocidentais), pois, há palavras e conceitos específicos em cada língua, lembrando que grande parte das línguas já se extinguiu, e outras estão em extinção. Essas palavras poderiam existir também em idiomas diferentes com acepções diferentes. Para entendermos melhor esta questão, é recomendável que estudemos a Lingüistica (ciência surgida no começo do século 20). Como dizem alguns Lingüistas em visão mais antropológica: ”O mundo é um mosaico de visões, e cada visão é produzida por uma língua”. Alguns estudiosos deste assunto acreditam que ainda há 10 mil línguas no mundo, outros acreditam em 4 ou 5 mil idiomas, há no entanto um consenso em torno de 6 mil línguas ainda existentes, porém, a estimativa é que em torno de 50% delas, se extinguirá nos próximos 100 anos. O problema é que quando uma língua morre, desaparece uma das muitas visões do mundo, morre uma cultura humana, morre uma parte da humanidade, morre um fazer sonoro que no ocidente chamamos de Música.

          Ligada à Lingüistica está a Semiologia (ou Semiótica) que é mais uma entre as novas ciências do último século, que estuda os sistemas dos signos e os símbolos. Pois, a Música no Ocidente se desenvolveu como Linguagem, por conseguinte é carregada de símbolos e se serve de signos para a sua escrita (porque foi inventada também a partir da escrita).

          A palavra Música, no Ocidente, tem significado especifico para o Ocidente, apenas a sua essência, que é o Som, é quem será comum aos ‘fazeres’ de outras culturas, mas, a organização dele através dos seus discursos vibratórios e na ordem da duração, apresentará certamente percepções diferenciadas no que refere-se ao Espaço-Tempo, obviamente, partindo dos próprios Sistemas Musicais. Então, aquilo que no Ocidente chamamos de Música é uma gama de ‘fazeres sonoros’ do próprio Ocidente e não necessariamente dos ‘fazeres sonoros’ de toda a humanidade e de toda existência humana. Pois, em culturas antigas ou até mesmo atuais que estejam fora do eixo Ocidental moderno, elas podem “organizar e praticar sons” isto é “fazeres sonoros”, sem que isso possa ter o nome de Música, ou qualquer outro nome equivalente, a não ser que estejamos nos referindo ao Transe ou à Magia ou algo no genero.

         Então, uma verdadeira compreensão da Música, antes ainda, uma verdadeira compreensão dos fenômenos vibratórios na categoria dos sons, está para muito além da simples compreensão da Música como à entendemos no Ocidente, pois, ela é apenas uma parte de todos os ‘FAZERES SONOROS’ da humanidade.

Exposição sobre as relações internas no Quadro Sinóptico 3:
 “A Musica correlacionada às várias Ciências

            Conforme já havia comentado que, ao organizar a estrutura do Quadro 3 conectando as Ciências que pretendi correlacionar com a Música, tive que considerar aspectos historicamente e epistemologicamente estabelecidos no Ocidente, isto é, de uma teoria do conhecimento, ao mesmo tempo tentando agregar informações da Música na perspectiva de outros saberes de outras culturas humanas, e isto, é claro, é muito mais complexo.  

            Hoje, novas ciências surgem como derivadas de um ‘tronco principal’ que se formou principalmente entre os séculos 16 e 18 na Europa, e que tal formação epistemológica se deu principalmente a partir da renascença no século 15, conforme já comentamos no outro texto. Então, tais “saberes” tem “inspiração” nos “supostos” conhecimentos da Grécia Pré-Cristã. É importante posicionar que a idade média foi um período que indubitavelmente ainda preservava certas características de uma vida “orgânica”, e que pouco a pouco cederam espaço à formação da epstime que fundou a Era Moderna. Assim sendo, as ciências consideradas modernas são aquelas as quais dispomos como o arcabouço para os nossos estudos.

            Então, para distribuir as relações no Quadro 3, Wesley Caesar partiu das classificações científicas já existentes, considerando as duas vertentes principais, Ciências Exatas e Ciências Humanas.

            É importante lembrar que esa epistemologia cientifica surgida no século 15 (elaborada por alguns poucos homens categorizados como Cientistas, ou Intelectuais, ou Filósofos, ou meramente curiosos, estudiosos ou observadores dos fenômenos gerais) fundou-se primeiramente como Ciências Biológicas, as Exatas (1) terão desenvolvimento já com a fixação da Razão como orientadora da vida humana, e as Ciências Humanas (embora existam desde os primórdios do ocidente em forma de discussões teórico-filosóficas dentro da história da civilização), só aparecem oficialmente e mais especificamente no século 19, surgiram como “necessidade” de organizar a “nova” sociedade com a “invenção” de um novo formato de sobrevivência. Primeiramente orientada por uma nova concepção social através da então surgida “economia política”. Um formato de sobrevivência fundado na indústria que irá gerar a necessidade do nascimento de uma nova “raça”: os consumidores (Eugen Weber). Fundada na idéia de mercado como regulador da vida humana, e na noção da tecnologia como orientadora dos “avanços” humanos… enfim, um novo mundo complexo que envolve um agremiado de culturas humanas… Esses dados somados terão um peso considerável sobre o desenrolar não só da história da música no ocidente, mas, da própria história da civilização ocidental.

            (1) É fato que a Matemática e a Física, como Ciências Exatas, e a Química como parte das Ciências Biológicas, todas são pelo menos teoricamente, muito antigas e anteriores ao próprio Ocidente.

             Segundo os Etnomatematicos há uma estimativa de que a Matemática tenha surgido na África há 20 mil anos (ver Quadro 2), porém, consideram o fato que há uma diversidade nas concepções daquilo que chamamos de Matemática, isto é, cada cultura humana antiga poderia ter a sua própria Matemática, o que nos coloca uma questão interpretativa não só do que é Matemática, mas qual o seu conteúdo, como ela pôde desenvolver-se em cada cultura? Quais as prerrogativas ? Isto é, quais os tipos de necessidades na construção dos conhecimentos para os formatos orgânicos de sobrevivência humana segundo a posição geográfica dos habitats, número da população, forma de organização social, e tantos outros aspectos, que configuram a ‘ordem’ de uma cultura humana ?

            É fato que o conhecimento formal no Ocidente, ou seja, o desenvolvimento daquilo que chamamos hoje, de Pedagogia, ou Educação como orientadora da conduta humana, do pensamento, do esclarecimento, só surgiu com a iniciativa da igreja medieval em criar monastérios para a Educação formal do cristianismo. Pois, as primeiras universidades, como a de Sorbonne e outras, datam dos séculos 10, 11, etc. Pois, a criação educacional é uma criação que se servirá de formalidades teóricas do conhecimento que estarão disponíveis, isto é, o conhecimento intelectual só pôde surgir com a Filosofia, pois, esta é bem mais antiga que o próprio Ocidente, porém, como todos sabemos, foi em grande parte a Filosofia da Grécia Pré-Cristã que influenciou o desenvolvimento da Filosofia Renascentista Européia, a qual inventou uma Era da Razão que organizou todas as dimensões da cultura Ocidental, em particular, a Música dos últimos cinco séculos – Aliás, caberia também uma analise da fonte nascedoura daquilo que hoje chamamos de Filosofia, uma vez que essa é a real provedora das origens de todas as ciências modernas.

             Muito embora na Música a “cultura cientifica” tenha penetrado, porém, não com a mesma eficácia que em outros setores como o da organização social e política, por exemplo. Porque, apesar das ciências direta ou indiretamente (através de seus agentes históricos) terem organizado o Sistema Musical moderno, porém, a música como portadora do Som carrega a sua própria mística, o seu próprio mistério, conforme já elucidei. Portanto, a Música como expressão de uma cultura, consegue um grau de autonomia por vezes não comum à outros setores, muito embora, repetindo, a Música Ocidental tenha sido organizada em seus aspectos teóricos com grande respaldo científico. Conforme já se elucidou neste longo texto, não sabemos a medida exata em que o tal cientificismo determinou o “fazer musical” no ocidente, principalmente no âmbito daquilo que chamamos de música “popular”, isto é, “folclórica”, pois, houve claramente uma “forte” influência no setor da música, a qual os documentos estão disponíveis, no entanto, na música de tradição oral, esta visão não é tão clara…

             A seguir Wesley Caesar tenta esclarecer melhor as relações que empreendeu no Quadro Sinóptico 3 para entender Musica em toda a sua abrangência.

O princípio cientifico e suas relações na construção do QUADRO SINÓPTICO 3

             O ponto de partida é o SOM, a essência de qualquer “fazer sonoro”, ou seja, a essência da Música. O Som é frequência vibratória, parte de um processo que ocorre em planos diferentes. Podemos entender o universo como um sinônimo de tudo aquilo que é, ou possui, vibração, e que atende a uma ordem de frequência. Então, num alto grau de aceleração vibratória o que se encontra é a “matéria escura”, escalando descendentemente até transforma-se em “Luz”, sombras luminosas geram “Cor”, e as cores transformam-se em “Sons”, num espectro frequencial do mais agudo até ao mais grave.  

             Os ‘sons‘ percebidos pelos ouvidos humanos atende a uma gama que varia entre 16 e 20.000 hz (freqüências sonoras). Abaixo de 16 hz, há freqüências subsônicas inaudíveis. As freqüências muito altas podem flutuar em milhões de ciclos por segundo e podem ser percebidas sob a forma de calor na pele, por exemplo.

             Então, o fenômeno vibratório pode ser entendido como provedor de toda a matéria existente no universo e isso se relaciona com a QUÍMICA (dos elementos) na medida em que a matéria é antes química.

NOTA: Este assunto está ligado aos fenômenos gerais da relação frequência vibratória e matéria no âmbito do fenômeno da interação vibração /substância (relações Físico-Químicos). O conceito de QUÍMICA surgiu no Ocidente no século 7. Na idade média existia a ALQUIMIA que era a prática da transmutação dos metais numa de suas abordagens entre outras três. A Alquimia que envolvia várias “disciplinas” era praticada em muitas partes do mundo antigo e precedeu a Química.

             O Som na concepção do ocidente possui 4 propriedades: Duração, Altura, Timbre, Intensidade.

             A Duração se relaciona com uma primeira dimensão da Música que é o Tempo (musical). Esta primeira dimensão implica no tema do Espaço-Tempo e no Tempo (como uma abstração), cujos temas são clássicos na Filosofia. E ele se relaciona diretamente com a própria questão da existência de todas as coisas. Em principio podemos dizer que o Tempo é abstrato, ele não existe a não ser a partir de nossa consciência, porém, a Música acontece no Tempo. Então, o organizamos para que ele possa existir, pois, ele está diretamente relacionado com o Espaço, então o Espaço-Tempo é um elemento “subjetivo-objetivo” fundamental na formação de uma cultura humana.

             Ao mesmo tempo, a especulação da origem da existência de todas as coisas implica diretamente nas questões da ONTOLOGIA, talvez o mais antigo estudo na tentativa de compreender as origens do cosmos e de todas as coisas, a Ontologia precede, aquilo que se passou a tratar como Metafísica (Aristóteles 384-322 a.c.) e na idade média, a Teologia.

             Podemos perceber logo em nossa primeira abordagem, o quanto a Música e certas questões que tomaram conta da Filosofia durante séculos (mesmo ainda antes do ocidente), são complexas e estão absolutamente entrelaçadas. 

             No Ocidente, nos primórdios da “ideologia” Cristã (inicio do Cristianismo), Sto. Agostinho (ver Quadro 2) foi um dos primeiros à preocupar-se com a questão do Tempo. Ele escreveu alguns textos a respeito, em particular sobre as questões da Música. É fato que bem antes de Agostinho, na Grécia Pré-Cristã muitos filósofos já haviam se preocupado com as questões do Tempo.

             A Altura (bem como a Duração) é uma propriedade diretamente relacionada com a Matemática e a Física, portanto, conforme já esclarecido, na ordem das tais Ciências Exatas, abordamos a Matemática e a Física como ciências que foram usadas para organizar a Música desde os conceitos dos gregos antigos.

             A Matemática na música, nos serve para entender melhor as medidas das propriedades dos sons, assim sendo, nos dá a razão do Ritmo (duração do som), da altura do Som, de sua Intensidade, de seu Timbre, e nos explica quais as relações existentes entre os graus de uma Escala Musical e das combinações Harmônicas. [Coloca-se a mesma questão que a anterior, isto é, ao longo da história do homem, ter surgido a ‘criação’ ou ‘invenção’ de uma ciência que tentasse organizar e medir as coisas, pôde obviamente assumir várias acepções. É fato que se a Matemática foi parte de um agregado místico no passado, após a renascença ela tornou-se a pilastra principal da racionalidade ocidental e contribuiu para organizar um mundo administrativo onde tudo pode ser organizado, previsto, certificado, com exatidão, etc.]

Matemática e Organologia

              Na Física encontramos o estudo da Acústica que tenta nos explicar a produção dos Sons, suas propriedades e os fenômenos a que estão sujeitos.

             [NOTA: Conforme já comentado anteriormente é preciso reiterar que seria importante refletir sobre as origens de um conceito para a criação de uma ciência como a Física, pois, é dentro da Filosofia da Ciência uma área (basicamente “interdisciplinar”) surgida dentro da Filosofia, que exerce um papel basicamente de “observadora critica” das ciências, cujos estudos surgiram do próprio mundo filosófico a partir das posições criticas diversas… A Filosofia da Ciência tenta entender os processos da criação e formação das metodologias cientificas ao longo de seus percursos].

             A Estética (ciência do belo) pode ser compreendida ainda no âmbito das Ciencias Exatas. Pois, ela nos indica a lógica e o equilíbrio de proporções que deve existir em uma obra musical. È fato que o próprio conceito de Estética é relativo a cada cultura humana, com a possibilidade de se quer existir tal conceito entre determinadas culturas. O conceito da formação de uma ordem Estética das coisas em geral, é ainda mais subjetivo, e, particular, que as demais ciências. Como, nas Artes Plásticas, na Arquitetura, etc, etc.

             A Anatomia e a Fisiologia estudam a constituição e o funcionamento dos aparelhos auditivo e da fonação, os quais nos facultam a percepção e a produção dos sons. Estas ciências podem ser interpretadas na ordem das Ciências Biológicas porque estudam elementos de nossa biologia que nos permitem o elo com os sons externos ao nosso corpo, e, portanto, o “fabrico” da Música.

            A Psicologia nos faz compreender o efeito da música sobre o “espírito” humano e estuda o papel da inteligência, da imaginação, da memória e da sensibilidade do intérprete, e do ouvinte na percepção de uma obra musical.

            [É importante colocar que alguns autores consideram que a Psicologia esteve escondida dentro da Filosofia durante milênios e ela só surgiu como Ciência no Ocidente em fins do século 19].

           Já comentamos que as Ciências Humanas surgiram oficialmente na ordem da “história” da epistemologia científica, depois das Ciências Exatas antecedida pelas Ciências Biológicas, então podemos observar a importância dos estudos da História da Música, da Psicologia, da Sociologia, antes ainda e primordialmente da Antropologia para uma compreensão mais ampla daquilo que chamamos de Música.

             A História estuda o processo do “desenvolvimento” da música através dos tempos, tentando localizar sua origem, até ao presente, e nos esclarece sobre a influência exercida pela música sobre a evolução humana. E aqui posso citar a Biomusicologia (em busca das origens da música) surgida ainda na década de 1990 (portanto, quase 20 anos depois da primeira concepção deste Mapa) como a mais recente e audaciosa tentativa investigadora das origens da Música…

            [A História como ciência depende de metodologias como qualquer outra ciência. Uma de suas características é caminhar lado a lado com a Mitologia cujo estudo nos revela o quanto o homem é seu próprio fabricante, isto é, o homem é um produtor de mitos e neste sentido a História que tenta ser concreta, porém, é na verdade complexa, apresenta traços de fragilidade nas suas concepções próprias. A História é entendida com recorte horizontal, o que á contrapõem ao recorte vertical trabalhado pela Etnologia (a antropologia social) que estuda o homem contemporâneo em sua vida cotidiana, e, não o homem do passado, como se propõem a História ou a Arqueologia que também pertence a um setor da Antropologia (ver adiante). A visão horizontal acaba por forjar a própria complexidade da analise dos acontecimentos, os quais nem sempre são lineares e nem sempre pertencem à mesma natureza. O grande desafio para o historiador é conceber sem Anacronismo (enxergar o passado com a visão do presente) uma História da Música no Ocidente cuja análise seja imparcial e tente conceber os fatos, os acontecimentos através dos conceitos, porém, com o risco da precariedade documental, da interpretação equivocada, ou de uma visão fictícia dos fatos]. 

 Sobre a História Universal da Música

           A Sociologia que tenta ser o estudo da constituição e da “evolução” das sociedades humanas, nos elucida sobre a existência dos gêneros diversos da Música, privativos de cada povo, e nos explica a influência exercida pela evolução humana sobre a arte musical.

           Acontece que a Sociologia oficialmente só surgiu no século 19, embora já podemos encontrá-la em iluministas como J. J Rosseau. Encontramos dentro da própria Sociologia um setor chamado, Sociologia da Música que no século 20 teve poucos avanços, talvez porque tivemos poucos contribuidores para ela, como o filósofo alemão T. Adorno, por exemplo. E além disso, a Sociologia é uma área (uma filial) que pertence a uma ciência que tem uma abordagem bem mais ampla e complexa que é a Antropologia (que é o estudo geral do Homem em todos os aspectos de sua vida).

           É dentro da Antropologia que encontramos uma ciência importantíssima para a compreensão da Música que é a Etnomusicologia que se diferencia da Musicologia pelo seu objetivo de trabalho.

           Em princípio a plataforma básica para que possamos alçar uma compreensão das questões da Música está aqui lançada, porém, teremos que acessar outros setores do conhecimento para completar a nossa jornada de assuntos e pautas abordadas.

           Penso que foi de absoluta importância nos últimos 200 anos da Música no Ocidente o surgimento da Revolução Industrial (na Europa, em particular na Inglaterra), da Ideologia de uma prática econômica que resultou na criação da Ciência Econômica moderna através do seu credo. As associações das Ciências modernas inventando uma cultura da Tecnologia moderna aliada à Industria na perspectiva de uma nova Ideologia que teve como base a invenção de uma ‘nova ciência’ surgida ainda no século 18, a Economia. Esta gerou um modelo padronizado de um novo formato de sobrevivência humana, alterando conceitos, ideias, e a própria forma orgânica de sobrevivência humana. É importante lembrar que a Economia como ciência não emergiu da consciência do cidadão comum, e sim, surgiu das ideias e posições ideológicas de alguns poucos homens específicos que se serviram em grande parte dos modelos de estratificação social já existentes, portanto, não houve qualquer mudança fundamental nesta ordem, ou seja, a idéia de uma ‘Democracia’ (preceitos originais da Grécia clássica) no contexto de um mundo subservil à Indústria e à Razão instrumental, tornou-se uma invenção ideológica, eufemistica, criada pelas ‘classes sociais’ que assumiram a frente de liderança dentro de um processo histórico “totalitário” ou, ao menos, um processo histórico altamente discutível ou questionável…

            No âmbito da Música, este novo modelo fez surgir um tipo de relação sócio-musical absolutamente inédita na perspectiva do trato com a própria Música. Neste sentido a História da Música do século 20 é a História da Indústria Fonográfica que foi um setor totalmente importante da Indústria da Música e da Cultura, que na verdade são todos setores da grande e absoluta Indústria do Entretenimento, e que através dos chamados ‘meios de comunicação’ “organizou” não só toda a Música do século 20, bem como, o pensamento e o comportamento dos cidadãos comuns de todo o Ocidente até onde esta Indústria conseguiu (e ainda consegue) atingir determinando assim a “continuidade” de suas concepções e acepções no século 21.

            Este assunto é especifico dentro da História, porém, podemos adiantar que até finais do século 19, não havia aparelhos reprodutores de Música ou mesmo gravadores, pois, T. A. Edson inventou o fonógrafo em 1877. O Cinema que foi um dos grandes divulgadores da Música, só surgiu em 1895, o Rádio que foi por excelência o principal veículo de difusão da Música, surgiu oficialmente em 1918, e a Televisão que copiou o formato do Rádio com o do Cinema mantendo a forma original monóloga de ambos só surgiu em 1950. Sem estes meios é impossível divulgar à distância, qualquer tipo de Música, e, por conseguinte, deflagrar nomes artísticos, difundir em larga escala qualquer produto, sem a indução persuasiva da propaganda, ferramenta essencial para a “venda” e consequente consumo de qualquer produto fabricado pela indústria.

            O século 20, como sabemos é caracterizado pela ‘cultura de massas’ antecedido pelo século 19 que preparou o campo através de novas ideologias como o fascismo (que teve seu ápice no século 20 com as ditaduras tanto de direita quanto de esquerda – como o bolchevismo – e, principalmente, o totalitarismo nazista) e o corporativismo (capitalista do primeiro mundo ditando o consumo através da propaganda como prerrogativa do mundo Industrial sustentado por uma ideologia bélica aliada à uma crença no desenvolvimento tecnológico). Ambos, com suas estruturas totalitárias desenharam assim, não apenas um caminho e formato de sobrevivência humana, mas, e principalmente, traçou caminhos específicos para toda forma de atividade cultural humana, seja na Música, nas Artes Plásticas, na Arquitetura, na Literatura, e obviamente o próprio Cinema, que nasce como um dos muitos “filhos” deste processo cultural “autoritário” do século 19, na construção ideológica de um “mundo livre” através de uma lógica estruturada pela Economia (que fundou na melhor das hipóteses uma ordem burocrática administrativa moderna).

            Importante, ainda lembrarmos, que toda a modernidade que inclui as Ciências, as Tecnologias, a Indústria, as novas concepções de mundo e da vida em geral são invenções ou criações fundamentalmente desenvolvidas do século 18 para cá, tendo como base a Europa (principalmente o Reino Unido – a Inglaterra, em particular- como propulsora do pensamento econômico moderno através de seus autores e ideólogos) e os EUA (como base administrativa desta nova ideologia que alastrou-se, e, ainda continua a alastrar-se para o mundo todo)

            Então, nesta ótica se faz pertinente uma abordagem da História Econômica dos últimos 250 anos, cuja História encontra-se dentro da História Geral, como um campo onde grande parte da Música que entendemos como tal, aconteceu.