BEBOP STYLE
TRECHO DA AULA FUNDAMENTOS DO JAZZ

CHORD-MELODY STYLE
Sinopse Histórica do Jazz

Nota: Não há como escrever qualquer histórico da musica sem considerar aspectos sociais e econômicos, até porque, os protagonistas da Musica são antes agentes sociais históricos.  A História do Jazz merece ser escrita em um longo livro e não em um simples texto sinóptico, apenas brevemente em linhas gerais. Então, para os mais interessados durante o texto damos algumas referencias de fontes bibliográficas. 

As Origens e a Formação do Jazz

         Se checarmos a história do Jazz, perceberemos que é comum considerar oficialmente esta forma musical como algo que surge nos EUA por volta da década de 1920, com fases que se estendem década a década. Entretanto, alguns historiadores, como Piero Scaruffi que tem um ponto de vista interessante sobre a história da musical em geral. Tais historiadores consideram eventos muito anteriores de fundamental importância para a concretização do gênero (ver Sinopse Histórica do Blues). Começam a descrever a história do Jazz a partir dos primeiros navios negreiros chegados na América, ainda em 1619. Porém, na verdade o Jazz reconhecido como um estilo musical tem seus primórdios no começo do século XX com músicos negros, créoles (descendentes de brancos com negros) e brancos.

        Alguns eventos podem ser considerados como embrionários na formação da história do Jazz, tais como:Em 1843 é definido o padrão de show de menestréis, ou seja, de cantores.

  • Em 1843 é definido o padrão de show de menestréis, ou seja, de cantores.
  • Em 1865 é formado o primeiro grupo negro de menestréis,
  • Em 1873 James Bland surge como o primeiro maior compositor negro, de canções.
  • Em 1897, é publicado o primeiro álbum de piano Rag (Harlem Rag) de Tom Turpin.
  • Em 1898 “A Trip to Coontown” de Bob Cole foi a primeira comédia musical inteiramente produzida e representada por negros.
  • Entre 1905 e 1910 há vários eventos com participação de negros em formação de orquestra, presença em teatro, etc.
  • Em 1915 é publicada a primeira peça de Jazz “Jelly Roll Blues” do pianista Jelly Roll Morton.
  • Em 1917 a banda branca “The Original Dixieland Jazz band” faz as primeiras gravações de Dixieland Jazz.

               É fato que em todo este período do século XIX outros eventos contribuíram direta ou indiretamente para a realização histórica não só do Jazz, mas, tambem de outros Estilos musicais (ver “historia do Blues”).

               No livro “Jazz – das raízes ao Rock” Ed. Cultrix, a autora Líllian Erlich, escreve: “O Jazz nasceu e se criou nos EUA. Surgiu lentamente de uma complicada mistura de ritmos africanos e noções européias – de uma maneira que só poderia acontecer em solo americano, pela feliz combinação de povos, tempo e espaço… o jazz aconteceu como uma forma nova e singular de arte e continua desenvolvendo-se e mudando em nossa época. A base fundamental do Jazz é a musica popular negra que se desenvolveu no tempo da escravidão. Musica dos campos do Sul, das senzalas, e das igrejas no interior, musica que durante dois séculos e meio expressou os mais profundos sentimentos de um povo escravizado”.

New Orleans, os Creoles e o Ragtime

         Os ritmos da África transmitidos de geração a geração transformaram as baladas e os hinos trazidos pelos colonizadores da Europa ocidental, formando uma mistura que produziu o spirituals e o blues (ver história do blues no vol. 01), que juntou em New Orleans os tambores do vodu com a banda de musica francesa.

         É deste ponto que normalmente se considera o inicio do Jazz, sobre isso Lillian Erlich escreve: “Muito se tem escrito para pôr fim à lenda de que New Orleans foi o berço do Jazz. Na realidade, o Jazz brotou por toda a parte no inicio do século XX. As toadas dos minstrels (menestréis), o ragtime, e o blues, mudaram a musica americana de costa a costa. Por acaso formou-se em N. Orleans um viveiro fecundo do Jazz que só receberia este nome por volta de 1917”. Embora a historiadora enfatize que por volta deste ano o Jazz já pudesse ter um tratamento oficial como estilo musical, outros pesquisadores colocam questões diversas.

        Um deles é Piero Scaruffi, já citado acima, um grande pesquisador das histórias dos estilos e gêneros musicais, explica que, antes desta data o termo “jass”, já era conhecido na Costa Oeste da América, identificado não com estilo musical, mas, com o espaço geográfico, em particular, New Orleans. A palavra “jass” estava associada a uma espécie de brincadeira frenética contendo conotação sexual em um período o qual os setores mais conservadores da sociedade branca americana tentavam coibir danças que consideravam imorais.

        Basta lembrar que nos EUA, tanto nas áreas de domínio francês como católico, os negros puderam praticar melhor o seu africanismo. O mesmo não ocorreu nas áreas de domínio protestante, pois, os cultos africanos permaneceram underground ou se transmutaram adquirindo influencias européias muito maiores.  

        Para o historiador E. Hobsbawn o Jazz tem seus inícios a partir de 1900, que para ele, tal data é apenas um referencia, não muito importante. Ele escreve: “O Jazz surgiu do ponto de intersecção de três culturas musicais Européias: a espanhola, a francesa e a anglo-saxã. Cada uma delas produziu um tipo de fusão musical afro-americana característica: a latino-americana, a caribenha e a francesa e varias formas de musica afro-anglo-saxã, das quais nos interessa aqui, as canções Gospel e Country Blues”.

       A influência afro-espanhola deu ao Jazz apenas uma “nuance espanhola” para citar palavras do Jelly Roll Morton que foi praticamente o pioneiro da musica de New Orleans, já citado anteriormente. Acrescenta Hobsbawn que: “A tradição musical francesa é muito mais importante, principalmente por ter sido completamente assimilada pela classe especial de escravos libertos, os créoles de ascendência francesa que eram originados das ex-amantes de colonizadores franceses e seus descendentes”.

       Esta primeira fase da musica de New Orleans é indubitavelmente francesa, a instrumentação é igual às bandas militares, a técnica instrumental, os instrumentos de sopro, o repertório de marchas, quadrilhas, valsas, etc, bem como são tambem; o dialeto e os nomes de alguns dos primeiros músicos créoles. Por exemplo, o nome legitimo de Jelly Roll Morton era, “Ferdinand Joseph La Menthe”.

        A língua inglesa forneceu ao Jazz as palavras para o discurso negro e para as canções. Os negros norte americanos criaram com a linguagem jazzística um apurado ramo da poesia popular inglesa desde as baladas escocesas: as canções de trabalho, a musica gospel e o Blues secular

        Pois, a musica popular dos colonizadores contribuiu com grande quantidade de canções que foram assimiladas e modificadas pelos menestréis itinerantes negros (ver Sinopses Históricas do Country e do Blues).   

        Alguns músicos de Jazz tentaram uma definição para o gênero. Por exemplo, Fats Waller que era um pianista dos anos 20 e 30, dizia; “Jazz não é o que você toca, mas, de que maneira você toca”.

        Charlie Parker, que foi um dos maiores saxofonistas da história do Jazz, um dos fundadores do bebop, tambem arriscou uma definição; “Se você não o viveu não adianta que ele não sairá do seu instrumento”.

           Nota: Talvez esta afirmação de Parker seja um tanto polemica, na verdade a pratica contraria as palavras de C. Parker, pois, conhecemos muitos músicos de Jazz que não são americanos e nem conviveram com o drama da cultura negra e, no entanto tocam o Jazz muito bem, são portadores, tanto da técnica, quanto do caráter emocional do estilo. Ou seja, com a pratica musical somos capazes de incorporar qualquer estilo. Como algo que já estivesse nato. Tal fato se deve ao caráter do “dom” imitativo que possuímos. Pois, sempre aprendemos por imitação (mimese) em todos os setores da atividade humana ou poderíamos dizer atividade animal, uma vez que os bichos em geral tambem aprendem uns com os outros. Bem, os aspectos históricos do Jazz é o que mais nos interessam aqui, porém, saber o que pensam alguns músicos que inclusive foram importantes no Jazz, nos serve para acrescentar elementos ao espectro do nosso conhecimento no gênero musical.

        Do ponto de vista histórico podemos dividir o Jazz em fases, com os seus respectivos expoentes em suas respectivas características musicais. Seguindo os comentários de Lillian Erlich, sobre as questões da presença do Jazz em New Orleans, vale lembrar que a musica no estilo Ragtime já existia por volta de 1890 e ele não é o antecessor do Jazz, conforme alguns imaginam, ou seja, antes do surgimento do Dixieland Jazz da década de 1920. O Ragtime era uma musica sincopada alegre e com estreitos vínculos com as melodias de banjo – instrumento adotado pelos brancos a partir dos negros.

         Para o clarinetista alemão de Dixieland, Reimer Von Essen, pesquisador da história do Jazz que ministrou cursos sobre o assunto, o Ragtime teve como pátria mãe, a cidade de St. Louis, e seu mais eminente representante foi Scott Joplin que compôs muitos Rags.      

         O Dixieland, os primórdios da Gravação e os meios de comunicação de massa do século XX

          A banda branca “The Original Dixieland Jazz band” (já citada) ao fazer em 1917 suas primeiras gravações de Dixieland jazz, segundo Reimer Von Essen, tal fato marca a história do Jazz com um grande paradoxo, pois, os negros que eram fundadores de toda a fase anterior embrionária deste processo de formação da musica de Jazz, não participaram dessas primeiras gravações.

          Para o pesquisador Piero Scaruffi, o Dixieland é uma deturpação do Jazz dirigida a uma audiência branca. Uma novidade arquitetada para uma audiência que estava interessada apenas em novidades.                  

          Ainda citando Reimer Von Essen: “Entre os entendidos é freqüente empregar a expressão jazz New Orleans especificamente para o jazz negro e para a musica dos conjuntos brancos de New Orleans a expressão ”Dixieland Jazz”. A palavra ”Dixie” pode significar “caldeirão”, mas no caso aqui a palavra Dixieland refere-se aos estados sulistas.

          A musica Dixieland era basicamente acústica, pois, os instrumentos elétricos ainda começavam a surgir, somente à partir da década de 30 e 40 é que os instrumentos elétricos se tornam mais populares.

          Retomando a historiadora L. Erlich e o pesquisador Piero Scaruffi, ambos concordam que o Jazz teve uma razão importante para o seu sucesso, pois, os canais os quais ele poderia difundir-se abriram-se de repente durante este período inicial do estilo.

          Acentua Erlich: ”O fonógrafo até então era um apêndice dos salões americanos, mas até 1917 nenhuma gravação de Jazz havia ocorrido. Os catálogos das companhias de gravação disponibilizavam cantores como Caruso, etc. A gravadora Victor rompeu ousadamente com a tradição ao lançar os primeiros discos de Jazz, do grupo já citado ‘Original Dixieland Jazz Band’. Estes discos venderam milhões de cópias e tornaram o Jazz uma palavra familiar do dia para a noite. O mercado de Jazz explodiu, e tanto artistas autênticos do jazz, bem como, pretensos artistas atrelaram-se ao carro da banda. Os serviços de Radio começaram em 1920 abrindo possibilidades jamais sonhadas para a nova musica. Em 1927, surgia o cinema falado. Enfim, foi uma década importante para a comunicação de massa nos EUA e para o Jazz”. Ao meu ver estas observações da historiadora colocam a questão da gravação de maneira imperativa, como condição ‘sine qua non’ para a expansão da musica popular como produto de consumo.

         Scaruffi coloca que: ”A nova mídia, ou, o novo meio, que ajudou a espalhar o boom do ‘dixieland jazz’ nos EUA, foi a tecnologia da gravação. Foi o primeiro novo gênero de musica que agradeceu a nova tecnologia da época. Anteriormente uma eventual nova forma de musica ou de dança para serem divulgadas em todo o País, dependia do movimento físico ou da protagonização real (viva). A história do Jazz, foi no seu inicio, tambem, a história de como a industria da musica aprendeu a fazer a Musica se deslocar de região ou de espaço geográfico sem a presença física do musico”. Isto valeu para qualquer genero ou estilo musical.

         Nota: A titulo de esclarecimento devemos mencionar que a técnica da gravação só surgiu como invenção à partir de 1877 (Tomas Edison), o Cinema em 1895, o Radio à partir de 1918, a Imprensa e a fotografia já existiam no século XIX, porém, ainda precariamente, e a TV só se popularizou à partir de 1950, portanto, sem estes meios não há como divulgar qualquer coisa.

        Dan Morgenstern que dirigiu três das maiores publicações norte americanas de Jazz, faz um breve comentário; “É praticamente impossível avaliar em todo o seu peso o que foi a influencia da tecnologia do disco sobre o desenvolvimento do Jazz. Contentemo-nos em verificar que, sem este intermediário, o Jazz teria, quando muito, guardado as proporções, de uma ‘musica popular’ de caráter regional”. Podemos acrescentar que, a tal observação vale para qualquer estilo musical que tenha sido propagado à partir de tais condições.

        Ao mesmo tempo esta nova tecnologia criou de certa forma uma nova perspectiva da musica e induziu o publico de maneira considerável. Continua ele: “O apelo para ver o protagonista ao vivo era, contudo grande. Aos poucos a presença viva do protagonista tornou-se indispensável”.

        Continua então o pesquisador Scaruffi, citando que; em 1919, uma lei introduziu uma quebra no monopólio exercido pelas, então, duas maiores companhias fonográficas (a Victor e a Columbia) que permitiu que seus competidores produzissem o mesmo tipo de material fonográfico para serem tocados em fonógrafos populares (veja comentários no final deste capitulo [2])

        No contexto apresentado até aqui, podemos dizer que o Jazz por um lado carrega autenticidade no processo da formação de uma cultura negra americana e colonial branca, porém, ele surgiu nas condições de submissão a uma realidade industrial da musica, como qualquer outro gênero comercial.      

        Bem, estamos narrando aspectos positivos e negativos do Jazz, porém, constituidores de sua própria formação histórica. Alguns itens são comuns a todo o universo da musica do século XX e começo do XXI

        As fases da história do Jazz decorrem naturalmente deste processo de fabricação da musica. Então, um misto de musica “autentica” com musica fornecida voluntariamente pelo processo industrial, serão partes integrantes da história do Jazz.        

  A Era do Swing e os bandleaders

        Retomando o nosso objetivo central, podemos entender que a primeira fase daquilo que chamamos hoje de Jazz foi o Dixieland, da década de 1920. A partir deste período é que um conceito de musica Jazz se propaga, na segunda década (1910 a 1920), conforme já comentamos. 

       Nos anos 30, surgiu a talera do Swing (Swing Era). O bandleader e clarinetista Benny Goodman que atuou neste período, entrou para a história do Jazz, como o “rei do Swing”. Participaram de sua orquestra dois guitarristas importantes na arvore genealógica da guitarra elétrica.

        Primeiramente George Van Eps, que posteriormente cedeu o lugar para seu ex-pupilo, Alan Reuss (ver Historia da Guitarra Elétrica nos EUA).

       Outros instrumentistas importantes fizeram parte da era do swing, como: Lester Young, Coleman Hawkins, Count Basie e Duke Ellington.

       Citando novamente L. Erlich, ela escreve que; “O Swing foi a principal corrente do Jazz de 1935 até a segunda guerra mundial, tendo proporcionado aos jazzistas um sucesso material sem precedentes e transformado um setor do Jazz na musica popular dos americanos”.

        L. Erlich comenta que, em meados da década de 1920, Nova York era a capital da diversão. Músicos de Jazz afluíam para lá devido a grande oferta de empregos em night clubs, teatros e salões de dança. Grandes editoras de musica, as principais companhias gravadoras e estúdios de radio la estavam fixados. Muitos músicos de Jazz começaram a se ajuntar no Harlem.

       O Swing era um produto de músicos negros e brancos, que se influenciavam mutuamente e em meados da década de 1930 passaram a trabalhar juntos. Mas o musico que preparou o palco para o swing foi Fletcher Henderson. O famoso musico de jazz Louis Armstrong participou da banda de Henderson por volta de 1924/25.

       Dan Morgenstern pesquisador de Jazz, já citado, enfatiza que: ”Foi durante esse decênio (dos anos 30) que pela primeira vez e única, o Jazz e musica popular chegaram a ser entendidos como sinônimos. Tamanha popularidade seria inconcebível sem a dança que servia como motivação e intermediaria para a Musica; as primeiras big bands do swing implantaram-se quando a juventude nas pistas de dança começou a perder o habito das cadências jazzísticas dos anos 20”.

        Podemos dizer que, do ponto de vista mercadológico, de certa forma este período da musica americana já preparava o ambiente teenager de dança e musica da década do Rock’n’Roll (1955) que estava por vir (ver Sinopse Histórica do Rock ).

   Os Bopers: uma “atitude musical social” que redirecionou o Jazz

        Os anos 40 são marcados pelo Rebop, que tambem é conhecido por Bebop ou simplesmente Bop, do saxofonista Charlie “Bird” Parker, do trompete de Dizzie Gillespie, do piano de Thelonious Monk, e da guitarra de Charlie Christian (que foi responsável por inovações na história do instrumento, muito embora tenha morrido precocemente).

      Esta fase do Jazz é inovadora do ponto de vista, principalmente técnico musical. Os Bopers praticamente inventaram o estilo, alguns historiadores dizem que o fizeram propositalmente como uma auto-afirmação social, isto é, como uma atitude diferencial diante da pressão racista americana. 

      Outros músicos de Jazz participaram deste período, como por exemplo, Bud Powell, Max Roach (baterista), Stan Getz (Sax), Jimmy Raney (guitarrista). Miles Davis que nos anos 1970 se tornaria o pai do Jazz fusion, neste período dos anos 40 (do Bop) teve uma aproximação com Parker e Gillespie tocando na mesma orquestra ao preencher a vaga de um terceiro trompete. 

       Comenta L. Erlich: “O bop foi um significativo levante musical. Lançou o fundamento de todo o Jazz moderno. Foi produto de músicos sérios e muito talentosos (que haviam estudado musica e teoria em escolas e faculdades aplicando idéias avançadas). O bop tomou forma por volta de 1940 em pequenos cafés do Harlem freqüentados por jazzistas, porém, só chegou ao publico em meados da década de 40”.

        Para Leonard Feather (que até 1975 era – dono da cadeira da historia do Jazz na Universidade da Califórnia e considerado a maior autoridade em Jazz dos EUA), o Bebop marcou um avanço decisivo na história do Jazz. Embora seja atribuído a Charlie Parker e a Dizzy Gillespie o status de principais protagonistas (estrelas) do Bop, reitera que: ”O Bebop em suas diferentes formas é uma conseqüência lógica e talvez inevitável do que o precedeu, tanto do ponto de vista harmônico, como melódico e rítmico. Possivelmente na falta de Parker e Gillespie, as coisas teriam se passado quase da mesma maneira. Outros músicos chegaram simultaneamente ao mesmo resultado sem se conhecerem entre si. É o caso do saxofonista Sonny Stitt”.

       O fato histórico é que quando Charlie foi apresentado a Sonnye tocaram juntos informalmente, Charlie ficou surpreso com a semelhança de estilo, pois, não se conheciam e nem tinham ouvido um ao outro previamente.

       Feather acentua que: ”Os elementos característicos que, devidamente destilados, resultaram no bebop provêm das fontes naturais do Jazz; não poderiam ter sido livremente ‘inventados’. O ritmo, por exemplo, desenvolveu-se à partir da batida continua do compasso quaternário que domina todos os estilos precedentes do Jazz”. De toda forma o saxofonista Charlie Parker é referencia até hoje para músicos de Jazz em geral.

       Talvez seja interessante mencionar aqui um aspecto importante que demarca a melodia do Jazz e a distingue do conceito diatônico europeu de melodizar, são as tais “blues notes” que trata-se da bemolização dos intervalos de terças e sétimas já introduzido muito antes pela musica Blues (ver Sinopse Histórica do Blues). Na fase do Bebop houve o uso mais freqüente da quinta bemol.

       Grosso modo, se tomarmos a Escala maior (Do Ré Mi Fa Sol La Si) e bemolizarmos os intervalos de terça, quinta e sétima, chegamos à 10 sons, isto é, 10 notas que formam um tipo de Escala que podemos chamar de Bop, porém, esta Escala é quem, principalmente à partir dos anos 40, vai delinear as melodias do Jazz.

       É fato que estamos aqui resumindo grotescamente a forma de se tocar e compor as melodias do Jazz, porém, nos serve para uma referencia (ver exposição nos próximos capítulos).

  O Pós Bop (John Coltrane), o Jazz Modal, e o Cool

        Nos anos 50 surge o Pós Bop, o Jazz modal,e tambem o Cool Jazz. Este período tem como principal expoente o saxofonista John Coltrane, que faleceu em 1967. Este período, entre outras coisas é tambem caracterizado pelo afastamento daquele publico teenager do swing, que já na era do Bop havia se afastado do Jazz, pois, o Bop, bem como o Pós bop e mais as fases posteriores do Jazz tornaram-se “Musica para músicos”.

        O Pós Bop possui mais de uma característica como estilo musical. Pode ser modal, cromático, tritonico (três tônicas ao mesmo tempo) e pode ser observado na obra de J. Coltrane.

        Ao mesmo tempo aconteceu tambem o Cool Jazz, com participação de músicos como: Gerry Mulligan e Gil Evans.

        Miles Davis participou deste período abrindo caminho para outros jazzistas. 

     O Free Jazz e o Avant-Garde: anos 60

        Os anos 60 são marcados pelo Free Jazz e tambem pelo afastamento de seu publico. Corresponde a uma fase de explosões paralelas; o Rock e o Pop com a banda inglesa The Beatles que alterou consideravelmente o cenário do mercado da musica. O historiador E. Hobsbawn, já citado, explica que: ”Quando os revolucionários do Bebop se juntaram à corrente principal do Jazz na segunda metade da década de 50 (quando surgiu o Rock’n’Roll), os novos músicos avant-garde ou partidários do free jazz, avançando em direção à atonalidade e rompendo com tudo o que até então havia dado ao Jazz uma estrutura, alargaram ainda mais a distância entre a Musica e o seu publico”. Acrescenta: ”O Jazz se voltou para algo parecido com a musica clássica avant-garde, expondo-se a todo tipo de influencia não jazzística vindos da Europa, da África, do mundo Islâmico, da América Latina e, principalmente, da Índia. Nos anos 60 ele passou por uma variedade de exotismos. Continua: ”depois de 1962 o Free Jazz se tornou o primeiro estilo de jazz cuja história não pode ser escrita sem que se leve em consideração importantes evoluções européias e, poderíamos acrescentar, de músicos europeus.  

  O Jazz – Fusion (Miles Davis): uma nova fase

       No ano de 1970, o trompetista Miles Davis inaugurou uma nova fase do Jazz produzindo o seu disco Bitches Brew, que contou com um elenco de músicos que forneceria a musica do Jazz desta fase da década de 70, o Jazz-Fusion que basicamente fundiu-se ao Rock e ao Funk. Músicos como, Chic Corea, Herbie Hancock, John McLaughlin, Wayne Shorter, Joe Zawinul, Jack DeJohnette, e outros, começaram à surgir.

        O tecladista Chic Corea mais tarde formaria uma das primeiras e principais bandas do Jazz Fusion dos anos 70 o “Return to Forever” com o baterista Lenny White, o guitarrista Al Dimeola e o baixista Stanley Clarke.

        Ele lançou alguns discos solo e depois formou a Electric Band com o guitarrista Scott Henderson em uma formação e com Frank Gambale em outra formação, o baixista John Pattitucci e o baterista Dave Weckl.

        O guitarrista John Mclaughlin formou logo a seguir do trabalho com o Miles, a banda Mahavishnu Orchestra, com o baterista Billy Cobham e o tecladista Jan Hammer.

        O tecladista Joe Zawinul e o saxofonista Wayne Shorter formaram aquela que talvez tenha sido a principal banda do Fusion dos anos 70, o Weather Report que acabou por revelar um baixista que se tornaria lendário; Jaco Pastorius.

       Este período é carregado de músicos do novo Jazz, muitos lançamentos e produções, bandas como: Brecker Brothers dos irmãos Randy e Michael Brecker, os Crusaders de Los Angeles que faziam uma linha mais Pop Jazz.

       O tecladista Michel Colombier, o violinista Jean Luc Ponty que inovou, muito embora tenha se fixado em uma vertente mais Pop. Jean Luc era discípulo do legendário violinista Stephanie Grapelli, e havia tambem participado de um trabalho com músicos da orquestra de Londres ao lado de John McLaughlin. Jean Luc lançou em seus discos guitarristas como Joaquim Lievano e Daryl Stuermer.

      O próprio J. Mclaughlin já havia desenvolvido um trabalho com o guitarrista Larry Corryel que tambem despontou neste período. O McLaughlin formou já em meados de 1970 com Al Dimeola e o famosíssimo violonista espanhol de musica flamenca Paco de Lucia, o mais importante trio de violões surgido até então.

      O Jazz neste período se torna mais Pop com vertente do Funk music negro americano dos anos 60. O Tower of Power, por exemplo, que desenvolveu um trabalho musical que fica entre o Jazz e o Pop com utilização do groove do funk music, fez um trabalho competente embora possa não atrair a todos. Os guitarristas; Larry Carlton e Robben Ford surgiram no final dos 70 como representantes do Jazz Blues.

      Os anos 80 e 90 caracterizam o Jazz moderno, permaneceram alguns artistas dando continuidade a esta fase do Fusion e outros produzindo uma retomada de vertentes anteriores. O Yellow Jackets, por exemplo, é uma dessas bandas que no começo dos 80 contou com a guitarra de Robben Ford.

      Há muito o que saber sobre o Jazz, espero que esta sinopse tenha ajudado a elucidar os caminhos deste genero musical cuja trajetória cruzou todo o século XX e continua atravessando o século XXI…


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