O DUO COLONIA BRASILIS era formado por Wesley ‘Lély’ Caesar e Ricardo Way Martz. 

DUO COLONIA BRASILIS tocando Hermeto Pascoal

DUO COLONIA BRASILIS tocando Ernesto Nazareth (ODEON)

DUO COLONIA BRASILIS tocando Sons de Carrilhões

Aspectos da história social e da formação da musica no Brasil. 

          [Nota: Não há como escrever qualquer histórico da musica sem considerar os aspectos sociais e econômicos, até porque, os protagonistas da Musica são antes agentes sociais históricos].

Mário de Andrade e o estudo da Musica do Brasil.

       Mario de Andrade, um dos maiores pesquisadores da musica do Brasil, que ainda na década de 1930, já havia escrito varias obras sobre o assunto, desenvolveu um trabalho praticamente pioneiro, no que se refere a compilações da musica e dança das culturas regionais brasileiras. Pois, este tipo de trabalho em sua época, ainda era escasso, somente mais tarde com o surgimento quase recente da Etnomusicologia, que primeiramente se consolidou no exterior, seus especialistas então, passaram a exercer a função com técnicas especificas de coleta e analise de material.

        Em 1936 Mario de Andrade escreveu a obra “A Musica e a Canção populares no Brasil”, logo nas primeiras linhas, comenta:”O estudo cientifico da musica popular brasileira ainda está por fazer, há sobre ela, apenas sínteses, derivadas da necessidade pedagógica de mostrar aos estudantes a evolução histórica da musica brasileira”.

       Outros antes de Mario de Andrade já estudavam a musica e a cultura do Brasil, como Luis da Câmara Cascudo, por exemplo, que era um profundo conhecedor do folclore brasileiro.

  Os primeiros relatos e a precária documentação

       Na verdade o primeiro relato conhecido sobre a musica em nosso território data do primeiro século da colonização (século XVI) narrado pelo viajante Jean de Léry, que descreve o que viu e ouviu da “musica” e dança dos indígenas. Posteriormente a Léry outros viajantes ou mesmo residentes interessados na cultura do Brasil fizeram anotações a respeito.

       O professor Bruno Kiefer, autor de varias obras sobre a musica do Brasil, nos lembra que, as pesquisas históricas no campo da musica popular encontraram, e ainda encontram um obstáculo sério, que é a ausência de documentação do século XVIII, porém, com a documentação do século XIX, as coisas melhoram à medida que o tempo avança. Em sua obra intitulada “História da musica brasileira” escreve: “Aquilo que chamamos hoje de musica brasileira, seja ela popular ou erudita, é, pelas raízes principais, luso-africanas”.     

        Desde Léry, é claro que surgiram outros tantos pesquisadores, porém, lacunas ainda devem ser preenchidas.

         Nota: De toda forma, e acima de tudo, sabemos que a Musica e a Cultura do Brasil são materiais surgidos como decorrência de uma invasão colonizadora portuguesa. Cujo processo colonizador invasor era parte de uma ideologia de expansionismo comercial europeu que se encontrava em curso, portanto, neste território que habitamos com o nome de Brasil (e que anteriormente era habitado por grupos humanos que não faziam parte do ciclo de povos de tradição européia; os indígenas), uma musica e uma cultura brasileira, ainda não poderiam logicamente existir.

Os Jesuítas e os primeiros indícios da formação da Musica no Brasil

        É fato que tanto a musica como a cultura, no sentido lato, não surgiram da noite para o dia, foi um processo de construção “civilizadora” colonizadora. Pois, o fazer sonoro (musica) e os movimentos corporais “organizados” (a dança) de uma cultura de tribos era o que existia, antes da chegada dos portugueses.

        Porém, sabe-se que a musica indígena não influenciou na chamada musica brasileira, ao contrario, pois, a musica dos índios foi quem sofreu influencias catequéticas. Isto é, a catequese dos jesuítas aplicada aos índios, com a evangelização, desaculturou os indígenas.

       Sobre isso o professor Kiefer, comenta: ”É sabido que os jesuítas adaptavam o cantochão (canto gregoriano medieval da igreja católica) ao idioma dos indígenas e, ao mesmo tempo, ensinavam-lhes instrumentos europeus. Continua: ”Uma decorrência da ação civilizadora dos jesuítas”…. ”Naturalmente a musica dos índios não civilizados ou dos que se afastaram do contato com a civilização ocidental, esquecendo em pouco tempo o que aprenderam, conservou, ao longo do tempo as suas características fundamentais, mas esta musica que ainda hoje esta sendo recolhida e estudada, não pertence a musica brasileira”. Ou seja, Kiefer refere-se ao fato que a musica corrente brasileira, não carrega os traços ou elementos característicos de uma musica indígena do Brasil.

       A Musica Brasileira costuma ser abordada sob dois focos: a Popular e a Erudita, havendo tambem a classificação da musica semi-erudita. Entretanto, qualquer musica identificável como nacional ou mesmo regional sob um titulo reconhecível como brasileira popular ou erudita ainda nos dois primeiros séculos, não existia. Portanto, o conceito de musica popular e erudita do Brasil, só surgiu mais tarde.

 A chegada da Guitarra Mourisca (o Violão) : O nascimento da principal referencia do instrumento musical da canção popular…

         Contrapondo, ou completando de certa forma, o respeitável pesquisador Tinhorão, é interessante nesta altura citarmos outro respeitável pesquisador e professor de musica Luis Elmerich, que em sua obra História da Musica, nos lembra que entre 1580 e 1640, portanto, entre o primeiro e segundo séculos da colonização, o Brasil foi colônia Espanhola, por conta do domínio da Espanha sobre Portugal, naquele período. Então, foi quando chegou em terras brasileiras a guitarra mourisca, isto é, o Violão, que se tornou o instrumento mais popular do Brasil.  

         À seguir J. R. Tinhorão acentua um ponto absolutamente importante para a “invenção” ou produção de uma nova cultura musical. Escreve: ”Para que se pudesse surgir um gênero de musica reconhecível como brasileira e popular, seria preciso que a interinfluência de tais elementos musicais chegasse ao ponto de produzir uma resultante, e, principalmente que se formasse nas cidades um novo publico com uma expectativa cultural passível de provocar o aparecimento de alguém capaz de promover essa síntese”

         Nota: Há aspectos que devem ser considerados na formação da musica no Brasil. Por exemplo, a densidade demográfica até século XVII ou XVIII que se altera nos séculos posteriores. A sujeição imposta pela estratificação social, que ao separar ou juntar pessoas segundo os modelos sócio-economicos que desenharam o percurso histórico, permitiram a produção musical, ora involuntária, ora voluntária, de gêneros inéditos.  

 As Raízes: a Modinha e o Lundu
A Música Popular como uma criação urbana

        Comenta Tinhorão à seguir: ”Por oposição à musica folclórica (de autor desconhecido, transmitida oralmente de geração a geração), a musica popular (composta por autores conhecidos e divulgada por meios gráficos, como as partituras, ou através da gravação de discos, fitas, filmes ou vídeo tape, poderíamos acrescentar CD e Dvd ou qualquer tipo de mídia gravavel e reproduzível), constitui uma criação contemporânea do aparecimento de cidades com um certo grau de diversificação social”.

       Continua J.R.Tinhorão: No Brasil, isso equivale a dizer qua a musica popular surge nas duas principais cidades coloniais – Salvador e Rio de Janeiro – no correr do século XVIII, quando o ouro de Minas Gerais desloca o eixo econômico do nordeste para o centro-sul, e a coexistência desses dois importantes centros administrativos de uma classe urbana relativamente diferenciada “

O Ensino musical como orientador na formação da Música

       Uma outra questão é, quanto pesaram os ensinos de musica por parte dos jesuítas na formação da musica, seja, popular ou erudita no Brasil. Sobre isso comenta o professor Kiefer que, embora seja um fato que os jesuítas tenham sido os primeiros professores de musica européia no Brasil, porém, isto não quer dizer que o ensino deles tenha constituído uma coluna mestra no desenvolvimento musical entre nós.

      Mais importante, para este desenvolvimento, foi a ação dos mestres de capela que vieram de Portugal, ou que se criaram aqui (padres e leigos), e mais, as danças e cantares trazidos pelos portugueses. As atividades de outras ordens religiosas tambem contribuíram para o processo, como os franciscanos, beneditinos, carmelitas, etc.

O Maxixe e o Choro

         Muitos estilos e gêneros de musica ocorreram no Brasil desde este período inicial da musica brasileira, por exemplo, o Maxixe que era inicialmente uma dança, por volta de 1870 marca uma contribuição das camadas populares do Rio de Janeiro à musica do Brasil, conforme comenta J.R.Tinhorão.

         O Maxixe surgiu do esforço dos músicos de Choro em uma adaptação rítmica de estilos de musicas e danças de negros e brancos. O Choro por sua vez tem origem no estilo de interpretação que os músicos populares do Rio de Janeiro imprimiam à execução das Polcas.

         [Nota: As melodias do Choro são normalmente rebuscadas, utilizam arpejos de tríades e tétrades, escala maior e modos e principalmente escala menor harmônica. Na condição de musica popular, talvez seja uma das mais ricas, do ponto de vista melódico, se comparada às outras melodias populares do mundo. Porém, do ponto de vista harmônico ele mantem-se de certa forma conservador, com Cadências Harmônicas basicamente triadicas, sem extensões nos Acordes Tônicos e Subdominantes. A sua forma é normalmente constituída de três partes; A B C. Do ponto de vista Rítmico o compasso é normalmente 2/4 e baseado no grupo semicolcheia de quatro notas por tempo e suas variáveis, e sextinas eventualmente]. 

          Gêneros musicais importados que influenciaram a “Musica Popular” do Brasil (Polca, Valsa, Schottish, Mazurca)

          Outros gêneros estrangeiros já existiam por aqui e participaram direta ou indiretamente da formação desta musica brasileira dos últimos séculos.

          Por exemplo, a Polca, que segundo Tinhorão, foi apresentada pela primeira vez no teatro São Pedro do Rio de Janeiro em 1845. É uma dança de compasso binário que originou-se no começo do século XIX, na Boemia, fez sucesso na França e ficou conhecida no mundo chegando ao Brasil.

          A Valsa é outro destes gêneros estrangeiros que segundo Luiz da Câmara Cascudo, foi divulgada no Brasil em fins do primeiro Império e período regencial, justamente quando Paris inteiro a consagrava em 1830 e anos seguintes. Texto citado pelo professor B. Kiefer, que reitera colocando que a Valsa foi cultivadíssima no século passado, desde o Popular até o Erudito. 

         O (ou a) Schottish que entre nós ficou conhecido como Xote, é uma dança de origem Francesa que chegou entre nós ainda na década de 1850, de compasso binário ou quaternário e andamento acelerado e a Mazurca que era uma dança nacional polaca, originalmente cantada e dançada em compasso ternário com acentuação no segundo tempo, através da Alemanha espalhou-se pela Europa nos meados do século XIX, comenta o professor B. Kiefer.

        A Quadrilha é outra dança que, à partir dos salões da classe dominante difundiu-se até as camadas populares, produzindo, inclusive, peças folclóricas. A palavra quadrilha vem do francês quadrille…

A Musica de Carnaval, a Marcha e o nascimento do Samba

        A Musica de Carnaval surgida do entrudo (uma antiga pratica dos escravos que saiam pelas ruas para brincadeiras entre si, baseadas na tradição de uma festa pagã) que era desorganizada ritmicamente e também não precedia de uma forma musical determinada, por esta mesma razão, deu justificativa à origem da Marcha e do Samba.

O Frevo Pernambucano

         Outro gênero foi o Frevo pernambucano, que é uma criação dos mestiços da classe média urbana, e fruto de uma interação de musica e dança. Criado por músicos brancos e mulatos, instrumentistas de bandas militares, tocadores de marchas e dobrados, bem como, por componentes de bandas de musica, já citadas, do século XIX; polca, maxixe, tangos e quadrilhas. Ocorreu então, fixando-se com bandas de rua entre 1880 e o inicio do século XX.

         No correr do século XX outros gêneros e estilos surgiram. Talvez ainda devemos lembrar o Baião nordestino que foi transformado em gênero de musica popular urbana à partir da década de 1940, com o trabalho do famoso Luis Gonzaga e Humberto Teixeira.

A Bossa Nova

         Vale lembrar ainda a Bossa-nova surgida no final dos anos 50, não como um gênero musical, mas como uma maneira de tocar. Na verdade ao tocarmos Bossa nova percebemos claramente o compasso binário (que é característico no samba, no choro, no frevo, cuja fórmula binária, que antes ainda era do maxixe, conforme vimos nas linhas anteriores) somado a Harmonização (Acordes) do Jazz, isto é, a Cadências de Acordes comuns no Jazz.

A Musica Erudita do Brasil como influencia na composição popular: uma sinopse

        Bem, até aqui demos ênfase a Musica popular do Brasil, como um processo autônomo, porém, uma musica Erudita, vinda obviamente das elites que enviavam seus filhos para estudar Musica na Europa, ou, os colocavam para estudar com professores locais com uma tradição de ensino de musica Européia, conforme já citamos anteriormente, interagiu no processo de formação da própria canção popular.

       O que parece claro é que nos primórdios da formação da sociedade brasileira embora já houvesse distinção de raça que originaria distinção de classe social, não havia, contudo, a distinção de musica do povo e musica da corte, embora isto já fosse uma realidade….

A HISTÓRIA DA MÚSICA BRASILEIRA mais completa está na obra ‘BREVES HISTÓRICOS DOS ESTILOS MUSICAIS’ de WESLEY LELY CAESAR

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